Segunda Manhã

Ela riu quando ele disse que ela era pior que Casimir e até chegou a se divertir com aquela impaciencia que o outro estava tendo.

Quando ele terminou de explicar ela já estava com seu corpo escondido pela manta que vestia, seus olhos rubros o olhavam, suas mãos começando a desabotoar as roupas por debaixo daquela pequena proteção.

- Então começe a retirar seus trajes e passeos para mim.

Falou por fim. Procuraria se despir e se vestir por debaixo daquele manto, protegendo assim seu corpo e seu segredo. Ainda assim, mantinha-se longe o suficiente da luz para que qualquer coisa vista pudesse ser confundida com uma ilusão.

Com a concordância de Daniella sobre as trocas de vestes, o Conde soltou um suspiro exagerado, sussurrando algo que soou aos ouvidos dela como um "finalmente".

Então passou a remover as vestes de seu próprio corpo, despindo-se primeiro das roupas da parte superior. Com o torso nú e começando a trabalhar nas calças, ele a observou se despir por trás do manto. Ele riu a ela.

- Sua timidez não combina com o mais bravo dos comandantes, Daniell. - provocou.

Completamente despido, apenas com as roupas debaixo, ele passou as roupas para ela.

Ela terminou de retirar suas roupas e pegou as dele, o olhando, mas fazendo pouco caso, ou tentando. Ele era um belo homem, nao podia negar, mas nao era aquilo que chamava sua atencao em um homem. Alias, o por que de estar pensando aquilo ainda era um misterio.

Quando o escutou, apenas riu, comecando a colocar a parte de cima da roupa, que a cobriria o suficiente para ele nao perceber que era mulher.

- Nao e o primeiro a me dizer isso. De qualquer forma, como estou a agir agora nao vai atrapalhar nada na hora que formos enganar os soldados.

Sorriu maliciosamente, terminando de prender as calcas. Olhou-o, esperando que comecasse a vestir suas roupas obviamente menores do que ele.

- Se possivel, gostaria de recebe-las de volta usaveis.

Ele passou a se vestir com as roupas de Daniell sem perceber, entretanto, a observação de Daniella sobre si. Ou, se notou, fingia que não. Se percebesse, era certo que pensaria que Daniell tinha outros gostos que não eram tão incomuns para os homens em campos de batalha.

O que se esperava do corpo de um prisioneiro de guerra era abatimento e emagrecimento. O Conde se mostrava um pouco abatido, era verdade. Ele havia quase morrido por febre em sua fuga do Palácio e perdido sangue durante o resgate aos reféns. Entretanto, ele ainda possuia um corpo bem estruturado e músculos definidos, de quem foi instruído para ser um Senhor da Guerra. O Sultão tinha o tratado com algumas regalias acima de outros prisioneiros.

Enquanto se vestia, olhou discretamente para o outro, que terminava de se vestir debaixo do manto. Não era timidez, ele sabia. Havia alguma coisa que incomodava Daniell naquela situação. Vlad cogitou se Daniell não tinha sido violentado alguma vez, o que justificaria seu desconforto em ficar quase nú a frente de outro homem. Talvez, pelo homem que Daniell desejava a cabeça.

Com as primeiras palavras dela, ele sorriu suavemente, olhando-a como se lhe desse razão.

- Sua timidez realmente não faria nenhuma diferença. Alguns centimetros a mais, sim.

Ele abriu os braços, mostrando a ela como as roupas tinham ficado curtas e justas.

- Espero realmente sobreviver a este aperto durante a viagem. Seria triste se eu morresse por falta de ar.

Ouvindo seu pedido de receber as roupas de volta e usáveis, ele riu surpreso, curvando-se logo em seguida.

- Farei o possível, meu senhor.

Seus modos zombeteiros surtiam um efeito diferente dos de Casimir. Enquanto Casimir irritava com suas provocações, eram o charme de Vlad. Ele caminhou em direção a mesa e apanhou o anel que havia deixado sobre o mapa. Virou-se, voltando-se a Daniella e estendeu-lhe o anel.

- Coloque-o em seu dedo.

Ela terminou de vestir-se e entao suspirou aliviada pelo outro nao lhe perguntar o por que ou tentar ve-la se vestindo. Arrumou-se debaixo da capa antes de mostrar para ele o resultado final. Riu do comentario dele sobre as roupas, balancando a cabeca negativamente.

- Se for para morrer desta forma, melhor trocarmos de roupa novamente.

Zombou e depois escutou-o pegar o anel que tinha o simbolo da familia dele. Aquele mesmo simbolo que seu pai que usasse apos o matrimonio, ela estaria usando agora por vontade propria para conseguir sua morte.

Colocou o anel no dedo.

- Pronto. Vamos comecar logo isso.

Sorriu maliciosamente, prendendo seus cabelos novamente em um coque e depois colocando o capus sobre a cabeca.

Ele sorriu.

- Não sabia que se preocupava tanto comigo.

No momento que ela encaixou o anel no dedo, via novamente a mesma ilusão: o dragão se mover e olhar para ela. Talvez, o cansaço estivesse criando todas aquelas ilusões em um objeto inanimado ou Casimir tinha razão: Havia algo muito místico sobre o Conde. Draculea apanhou outro capote e drapejou sobre os ombros, disfarçando um pouco as vestimentas de Daniell.

O Conde a olhou e então acenou com a cabeça.

- Os homens de Casimir estão prontos e nos aguardam lá fora.

- Vocês realmente estão lindos.

Casimir disse e riu, da entrada da tenda. O Conde o olhou com desdém, pensando que toda vez que citava o nome do duque, este fazia seu aparecimento como o Diabo.

- Juro que não cito mais seu nome.

O duque sorriu de modo zombeteiro.

- Você o dirá, Conde. E muitas vezes.

O loiro se aproximou dos dois, o vestígio do sorriso irônico ainda não deixando seus lábios.

- Então, o Conde te convenceu a mais um plano maluco, Daniell? O último plano dele o levou para o açoitamento e o penúltimo seu mensageiro voltou sem as duas orelhas e a língua.

- Não, Casimir. Meu homem voltou com uma orelha só. - o Conde o corrigiu, indiferente.

O olhar vermelho de Daniella nao deixou passar aquela movimentacao estranha do anel de Draculea. Por hora ela ignorou aquilo, voltando sua atencao para o conde zombeiro, somente sorrindo de voltar, sarcasticamente. Escutou a voz de Casimir, e o sorriso ficou ainda mais sarcastico, voltando-se para olha-lo enquanto Vlad prometia nao dizer mais seu nome.

Ficou escutando a conversa dos dois, apenas rindo ao final.

- Digamos que eu receberei um bom premio, caso tudo de certo.

Ajeitou o manto sobre os ombros novamente, o olhar vermelho caindo novamente em Casimir.

- Esta tudo pronto?

Perguntou uma ultima vez antes de partir para seu novo destino.

O duque olhou para Daniella. O conde manteve um sorriso misterioso nos lábios, como quem estivesse achando aquela pequena reunião interessante. Havia um brilho no olhar de Casimir, como se ele estivesse instigado com as palavras dela. Contudo, Casimir acenou com a cabeça.

- Sim, está tudo pronto. Os homens estão lá fora e sabem que devem obedecer ao seu comando. O Rei também sabe de sua partida. Nós dois manteremos esta cidade em sua ausência, até que a base não seja mais segura.

Casimir se virou ao Conde.

- Que prêmio você prometeu que fez Daniell mudar de idéia?

O conde deu um riso no fundo da garganta.

- Um prêmio que será de matar. - o Conde respondeu de maneira perigosa.

Daniella apenas sorriu quando disse que estava tudo pronto, um sorriso malicioso, de crianca que estava pronta para aprontar algo. Comecou a caminhar para fora quando escutou Casimir perguntar qual era o seu preimo. Riu mais alto, saindo sem falar mais nada.

Caminhou ate os homens de Casimir e o cavalo que era seu. Passou a mao em sua crina, sussurrando algo como lhe segredasse para tratar Vlad bem so quando estivessem proximos do reino, e com isso o cavalo relinchou, como se concordasse.

So entao caminhou para um dos cavalos que Casimir havia sedido ao conde e subiu nele.

- Vamos.